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“Ah! Eu canto a dor, canto a vida e a morte, canto o amor”, na canção de Nelson Motta e Dori Caymmi

O jornalista, escritor, roteirista, produtor musical, letrista e compositor paulista Nelson Cândido Motta Filho, na letra de “O Cantador”, fala sobre a dor, a vida, a morte e o amor, sentimentos que fazem o cotidiano de quem apenas sabe cantar. A música teve várias gravações, entre as quais, a do próprio compositor no LP Dori Caymmi, em 1972, pela Odeon.
O CANTADOR
Dori Caymmi e Nelson Motta
Amanhece, preciso ir
Meu caminho é sem volta e sem ninguém
Eu vou pra onde a estrada levar
Cantador, só sei cantar
Ah! eu canto a dor, canto a vida e a morte, canto o amor
Ah! eu canto a dor, canto a vida e a morte, canto o amor
Cantador não escolhe o seu cantar
Canta o mundo que vê
E pro mundo que vi meu canto é dor
Mas é forte pra espantar a morte
Pra todos ouvirem a minha voz
Mesmo longe
De que servem meu canto e eu
Se em meu peito há um amor que não morreu
Ah! se eu soubesse ao menos chorar
Cantador, só sei cantar
Ah! eu canto a dor de uma vida perdida sem amor
Ah! eu canto a dor de uma vida perdida sem amor
Paulo Peres Poemas & Canções
Nos anos 80, Vital Farias previu com exatidão o que aconteceria na Amazônia

O músico, cantor e compositor paraibano Vital Farias lançou, em 1982, pela Polygram, o LP Sagas Brasileiras, que traz o épico “Saga da Amazônia”, cuja letra expressa a preocupação do artista com a degradação das espécies, a exploração desenfreada da mão de obra infantil, a poluição galopante dos rios e mananciais e, consequentemente, a defesa da preservação da natureza e a sustentabilidade das ações do homem, antecipando o movimento ecológico que tomaria força no final daquela década.
Logo, foi uma visão vanguardista do mestre Vital Farias, que, além de construir uma belíssima letra, ainda conclamava as pessoas a repensarem as suas atitudes, sob pena de inviabilizarem a vida no planeta para as gerações vindouras e, consequentemente, os acontecimentos atuais com o jornalista inglês e o indigenista brasileiro que envolve tráfico de drogas, garimpo ilegal, invasão de terras indígenas, falta de controle ou conivência do governo nestas áreas.
SAGA DA AMAZÔNIA
Vital Farias
Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta
mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
no fundo d’água as Iaras, caboclo lendas e mágoas
e os rios puxando as águas
Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores
os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir era:
fauna, flora, frutos e flores
Toda mata tem caipora para a mata vigiar
veio caipora de fora para a mata definhar
e trouxe dragão-de-ferro, pra comer muita madeira
e trouxe em estilo gigante, pra acabar com a capoeira
Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
pra o dragão cortar madeira e toda mata derrubar:
se a floresta meu amigo, tivesse pé pra andar
eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá
O que se corta em segundos gasta tempo pra vingar
e o fruto que dá no cacho pra gente se alimentar?
depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar
Mas o dragão continua a floresta devorar
e quem habita essa mata, pra onde vai se mudar???
corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá,
tartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiurá
No lugar que havia mata, hoje há perseguição
grileiro mata posseiro só pra lhe roubar seu chão
castanheiro, seringueiro já viraram até peão
afora os que já morreram como ave-de-arribação
Zé de Nata tá de prova, naquele lugar tem cova
gente enterrada no chão:
Pois mataram índio que matou grileiro que matou posseiro
disse um castanheiro para um seringueiro
que um estrangeiro roubou seu lugar
Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez, desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu
levando essa mágoa dentro do seu coração
Aqui termina essa história para gente de valor
prá gente que tem memória, muita crença, muito amor
prá defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
era uma vez uma floresta na Linha do Equador…
Paulo Peres Poemas & Canções
Na Serra da Boa Esperança, uma desilusão de Lamartine Babo que virou um clássico da MPB

O advogado e compositor carioca Lamartine de Azeredo Babo (1904-1963) compôs Serra da Boa Esperança inspirado numa situação inusitada, conforme consta na História da MPB, Grandes Compositores, coleção da Abril Cultural. Segundo o fascículo da coleção, em 1935 Lamartine recebeu da cidade de Boa Esperança (MG) uma apaixonada carta assinada por Nair Pimenta de Oliveira. Iniciou-se entre ambos uma correspondência que se prolongou por cerca de um ano. Depois, o adeus na última carta de Nair.
Meses mais tarde, outra correspondência da mesma cidade convidava o compositor para a festa de estreia de um conjunto musical. O remetente era o dentista Carlos Alves Neto. Sonhando encontrar sua antiga missivista, Lamartine rumou para Minas. E não foi difícil encontrar Nair: uma menina sobrinha do dentista, que era também autor das cartas. Ele colecionava fotos de artistas e se valera daquele expediente para aumentar sua coleção.
Desse episódio, nasceu o famoso e bucólico samba-canção “Serra da Boa Esperança”, gravado por Francisco Alves, em 1937, pela RCA Victor.
SERRA DA BOA ESPERANÇA
Lamartine Babo
Serra da Boa Esperança,
Esperança que encerra
No coração do Brasil
Um punhado de terra
No coração de quem vai,
No coração de que vem,
Serra da Boa Esperança,
Meu último bem
Parto levando saudades,
Saudades deixando,
Murchas, caídas na serra,
Bem perto de Deus
Oh, minha serra,
Eis a hora do adeus
Vou-me embora
Deixo a luz do olhar
No teu luar
Adeus!
Levo na minha cantiga
A imagem da serra
Sei que Jesus não castiga
Um poeta que erra
Nós, os poetas, erramos
Porque rimamos, também
Os nossos olhos nos olhos
De alguém que não vem
Serra da Boa Esperança,
Não tenhas receio,
Hei de guardar tua imagem
Com a graça de Deus!
Oh, minha serra,
Eis a hora do adeus,
Vou-me embora
Deixo a luz do olhar
No teu olhar
Adeus!
Paulo Peres Poemas & Canções
“Maringá”, a canção de Joubert de Carvalho que deu nome à importante cidade do Paraná

O médico e compositor mineiro Joubert Gontijo de Carvalho (1900-1977) compôs a canção “Maringá” que foi gravada, em 1932, por Gastão Formenti, pela RCA Victor, tornando-se logo um grande sucesso, sendo cantada até hoje. O nome e o tema da música surgiram quando Joubert de Carvalho visitava o ministro da Viação José Américo. Conversando com o oficial do gabinete, Rui Carneiro, este sugeriu que fizesse uma música abordando o tema da seca no Nordeste.
O compositor pediu a Rui que lhe desse uma lista de pequenas cidades assoladas pela seca. Entre elas estava Ingá, para a qual o compositor imaginou uma cabocla, Maria, que seria a Maria do Ingá, que acabou por tornar-se “Maringá”. É comum nome de cidades inspirarem canções, mas neste caso surpreendentemente, o nome da canção originou o nome da cidade.
“Maringá”, era muito cantada pelos operários que desbravavam a mata virgem para construir uma nova cidade no Paraná, e quando a Companhia de Melhoramentos do Norte reuniu-se para definir o nome que seria dado à cidade, a Sra. Elisabeth Thomas, mulher do presidente Henry Thomas, sugeriu que a composição desse nome à cidade.
MARINGÁ
Joubert de Carvalho
Foi numa léva
Que a cabocla Maringá
Ficou sendo a retirante
Que mais dava o que falá.
E junto dela
Veio alguem que suplicou
Prá que nunca se esquecesse
De um caboclo que ficou
Antigamente
Uma alegria sem igual
Dominava aquela gente
Da cidade de Pombal.
Mas veio a seca
Toda chuva foi-se embora
Só restando então as água
Dos meus óio quando chóra.
Estribilho
Maringá, Maringá,
Depois que tu partiste,
Tudo aqui ficou tão triste,
Que eu garrei a maginá:
Maringá, Maringá,
Para havê felicidade,
É preciso que a saudade
Vá batê noutro lugá.
Maringá, Maringá,
Volta aqui pro meu sertão
Pra de novo o coração
De um caboclo assossegá.
Paulo Peres Poemas & Canções
A força da fé no sofrimento do sertanejo, segundo João do Vale e Ari Monteiro

O compositor e cantor maranhense João Batista do Vale (1933-1996), na letra de “A Lavadeira e o Lavrador”, em parceria com Ari Monteiro, mostra que a religiosidade consegue frear a revolta pela sobrevivência no sertão. A música foi gravada por João do Vale, em 1965, no LP O Poeta do Povo, pela Philips.
A LAVADEIRA E O LAVRADOR
Ari Monteiro e João do Vale
Eu vi a lavadeira pedindo sol
E o lavrador pra chover
Os dois com a mesma razão
Todos precisam viver
Eu vi o lavrador com o joelho no chão
O pranto banhando o rosto
Seu filho pedindo pão
O gado todo morrendo
Oh Deus poderoso
Faça chover no sertão
Nessa hora eu queria ter força e ter poder
Pra acabar com a miséria
E fazer no sertão chover
Vocês vão me censurar
Mas veio na imaginação
Nem tudo o santo de Deus
Pois Deus não tem coração
Depois, vi a lavadeira
Soluçando a reclamar
Dez dias que não faz sol
Pra minha roupa secar
Se eu não entrego a roupa toda
Doutor não vai me pagar
Se amanhã não fizer sol
Ai, meu Deus, o que será
Ai, eu vi que Deus é toda a perfeição
O que eu pensei ainda há pouco
Agora peço perdão
Só uma força de Divina
Controla a situação
Um povo querendo inverno
Outro querendo verão
Paulo Peres Poemas & Canções
Hoje é Dia: datas que celebram dança e jazz são destaques

A última semana de abril de 2022 é, sem dúvida, uma semana “musical”. Além de ser marcada pela memória de diversos artistas célebres, duas datas mexem com os fãs da dança e das canções.
O dia 29 de abril é marcado pelo Dia Internacional da Dança. A data foi criada em homenagem ao nascimento do mestre francês Jean-Georges Noverre, bailarino e professor de balé. Para quem quer saber mais sobre o universo da dança – especialmente a dança de salão -, está disponível na TV Brasil Play a temporada completa do programa Em Dança. Cada episódio aborda um estilo de dança – zouk, salsa, bolero, samba de gafieira, bachata, lambada, tango, west coast swing, sertanejo, forró, kizomba e soltinho (foxtrot). Especialistas de cada estilo explicam as principais características e trazem curiosidades daquela dança, além de dar dicas para quem dar dar os primeiros passos. Assista ao primeiro episódio da série:
O dia 30 também tem uma data “mundial”. Trata-se do Dia Internacional do Jazz, promovida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) a partir da iniciativa do pianista norte-americano Herbie Hancock.
Julian Lennon cantou o hit de seu pai “Imagine” pela primeira vez. Fez pela Ucrânia à luz de velas – Ouça a canção aqui

O filho de John Lennon, Julian Lennon, apresenta o maior clássico de seu pai pela primeira vez em solidariedade aos refugiados ucranianos. Anteriormente, ele havia dito que só faria isso “no fim do mundo”. A performance faz parte da campanha global Cidadãos Globais #JulianLennon #tocou #Imagine #maior O filho de John Lennon, Julian Lennon, gravou pela primeira vez uma versão de “Imagine”, que é frequentemente considerada o maior clássico do período pós-Beatles de seu pai.
O músico de 59 anos junta-se ao movimento global da Global Citizen, uma organização internacional que visa erradicar a pobreza extrema, e junta-se ao guitarrista português Nuno Bettencourt (do Extreme). Toque a música de 1971. Foi uma “façanha” rara e, como jurou o filho mais velho de Lennon, só o faria “no fim do mundo”.
Assista ao vídeo feito à luz de velas: A campanha StandUpForUkraine, lançada pela Global Citizen, ganhou forte apoio na semana passada. O U2 produziu uma versão de “Walk On”, com Bruce Springsteen deixando uma mensagem pedindo refugiados e Eddie Vader (Pearl Jam) chamando governos de todo o mundo para ajudar a evitar “uma tragédia épica”.
Fonte: Youtube
“Se você quisesse morar na minha palhoça, lá tem troça, se faz bossa”, cantava Sylvio Caldas

O cantor e compositor carioca Alvaro Nunes (1912-1961), conhecido por J. Cascata, expressa na letra de Minha Palhoça, um bonito, bucólico e romântico convite para a pessoa amada. Este samba de breque foi gravado pela primeira vez por Sylvio Caldas, em 1935, pela Odeon.
MINHA PALHOÇA
J. Cascata
Se você quisesse morar na minha palhoça
Lá tem troça, se faz bossa
Fica lá na roça à beira do riachão
E à noite tem um violão
Uma roseira cobre a banda da varanda
E ao romper da madrugada
Vem a passarada abençoar nossa união
Tem um cavalo
Que eu comprei em Pernambuco
E não estranha a pista
Tem jornal, lá tem revista
Uma kodak para tirar nossa fotografia
Vai ter retrato todo dia
Um papagaio que eu mandei vir do Pará
Um aparelho de rádio-batata
E um violão que desacata
Se você quisesse morar na minha palhoça
Lá tem troça, se faz bossa
Fica lá na roça à beira do riachão
E à noite tem um violão
Uma roseira cobre a banda da varanda
E ao romper da madrugada
Vem a passarada abençoar nossa união
Tem um pomar
Que é pequenino, é uma teteia, é mesmo uma gracinha
Criação, lá tem galinha
Um rouxinol que nos acorda ao amanhecer
Isso é verdade podes crer
A patativa quando canta faz chorar
Há uma fonte na encosta do monte
A cantar chuá-chuá.
Paulo Peres Poemas & Canções
“Olha, lá vai passando a procissão, se arrastando que nem cobra pelo chão”, cantava Gil

O administrador de empresas, político, cantor, compositor e poeta baiano Gilberto Passos Gil Moreira, proporciona na letra de “Procissão” uma interpretação marxista da religião, vista como ópio do povo e fator de alienação da realidade, segundo o materialismo dialético. A letra mostra a situação de abandono do homem do campo do Nordeste, a área mais carente do país. A música foi gravada por Gilberto Gil em compacto simples e no LP Louvação, em 1967, pela gravadora Unima Music.
PROCISSÃO
Gilberto Gil
Olha lá vai passando a procissão
Se arrastando que nem cobra pelo chão
As pessoas que nela vão passando acreditam nas coisas lá do céu
As mulheres cantando tiram versos, os homens escutando tiram o chapéu
Eles vivem penando aqui na Terra
Esperando o que Jesus prometeu
E Jesus prometeu coisa melhor
Prá quem vive nesse mundo sem amor
Só depois de entregar o corpo ao chão, só depois de morrer neste sertão
Eu também tô do lado de Jesus, só que acho que ele se esqueceu
De dizer que na Terra a gente tem
De arranjar um jeitinho prá viver
Muita gente se arvora a ser Deus e promete tanta coisa pro sertão
Que vai dar um vestido prá Maria, e promete um roçado pro João
Entra ano, sai ano, e nada vem, meu sertão continua ao Deus dará
Mas se existe Jesus no firmamento, cá na Terra isso tem que se acabar
Paulo Peres Poemas & Canções
Um pedido de Pixinguinha ao maestro Mozart de Araújo acabou inspirando Ismael Silva

O cantor e compositor Ismael Silva (1905-1978), nascido em Niterói (RJ), para fazer a letra de Antonico, inspirou-se em uma carta de Pixinguinha para Mozart de Araújo, na qual pedia ao amigo um emprego para o sambista em dificuldade. O samba Antonico foi gravado por Alcides Gerardi, em 1950, pela Odeon, e depois regravado por Gal Costa, também com grande sucesso.
ANTONICO
Ismael Silva
Ôh Antonico
Vou lhe pedir um favor
Que só depende da sua boa vontade
É necessário uma viração pro Nestor
Que está vivendo em grande dificuldade
Ele está mesmo dançando na corda bamba
Ele é aquele que na escola de samba
Toca cuíca, toca surdo e tamborim
Faça por ele como se fosse por mim
Até muamba já fizeram pro rapaz
Porque no samba ninguém faz o que ele faz
Mas hei de vê-lo muito bem, se Deus quiser
E agradeço pelo que você fizer (meu senhor)
Paulo Peres Poemas & Canções
“Não, eu não posso lembrar que te amei; não, eu preciso esquecer que sofri…”

O cantor, músico, ator e compositor Herivelto de Oliveira Martins (1912-1992), nascido em Vila Rodeio (atual Engenheiro Paulo de Frontin, RJ), na letra de “Caminhemos”, retrata o sofrimento que a separação da pessoa amada pode trazer – no caso, a célebre cantora Dalva de Oliveira. Este samba-canção teve sua primeira gravação feita por Francisco Alves, em 1947, pela Odeon.
CAMINHEMOS
Herivelto Martins
Não, eu não posso lembrar que te amei
Não, eu preciso esquecer que sofri
Faça de conta que o tempo passou
E que tudo entre nós terminou
E que a vida não continuou pra nós dois
Caminhemos, talvez nos vejamos depois
Vida comprida, estrada alongada
Parto à procura de alguém
Ou à procura de nada…
Vou indo, caminhando
Sem saber onde chegar
Talvez que na volta
Te encontre no mesmo lugar
Paulo Peres Poemas & Canções
Pisando nas folhas secas da Mangueira, lá se inspiravam Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito

O pintor, escultor, violonista, cantor e compositor carioca Guilherme de Brito Bolhorst (1922-2006), na letra de Folhas Secas, em parceria com Nelson Cavaquinho, compara as folhas caídas da árvore mangueira com sua tristeza quando não puder mais cantar. Este samba foi gravado por Beth Carvalho no seu LP Canto Por um Novo Dia, lançado em 1973 pela Tapecar.
FOLHAS SECAS
Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito
Quando eu piso em folhas secas
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola
E nos poetas da minha estação primeira
Não sei quantas vezes
Subi o morro cantando
Sempre o sol me queimando
E assim vou me acabando.
Quando o tempo avisar
Que não posso mais cantar
Sei que vou sentir saudade
Ao lado do meu violão
Da minha mocidade
Paulo Peres Poemas & Canções
Gonzaguinha criava músicas que hoje relembram um tempo esquecido e sem memória

O economista, cantor e compositor carioca Luiz Gonzaga do Nascimento Junior (1945-1991) , conhecido como Gonzaguinha, foi, sem dúvida, um dos maiores talentos da música brasileira em diversos estilos populares. Sua obra teve, inicialmente, como característica sua postura de crítica a ditadura militar, conforme mostra a letra de “Pequena Memória Para Um Tempo Sem Memória” (A Legião dos Esquecidos), que faz parte do LP De Volta ao Começo, gravado em 1980, pela Emi-Odeon.
A LEGIÃO DOS ESQUECIDOS
Gonzaguinha
Memória de um tempo onde lutar
Por seu direito
É um defeito que mata
São tantas lutas inglórias
São histórias que a história
Qualquer dia contará
De obscuros personagens
As passagens, as coragens
São sementes espalhadas nesse chão
De Juvenais e de Raimundos
Tantos Júlios de Santana
Dessa crença num enorme coração
Dos humilhados e ofendidos
Explorados e oprimidos
Que tentaram encontrar a solução
São cruzes sem nomes, sem corpos, sem datas
Memória de um tempo onde lutar por seu direito
É um defeito que mata
E tantos são os homens por debaixo das manchetes
São braços esquecidos que fizeram os heróis
São forças, são suores que levantam as vedetes
Do teatro de revistas, que é o país de todos nós
São vozes que negaram liberdade concedida
Pois ela é bem mais sangue
Ela é bem mais vida
São vidas que alimentam nosso fogo da esperança
O grito da batalha
Quem espera, nunca alcança
Ê ê, quando o Sol nascer
É que eu quero ver quem se lembrará
Ê ê, quando amanhecer
É que eu quero ver quem recordará
Ê eu, não posso esquecer
Essa legião que se entregou por um novo dia
Ê eu quero é cantar essa mão tão calejada
Que nos deu tanta alegria
E vamos à luta
Paulo Peres Poemas & Canções
“Você só dança com ele e diz que é sem compromisso, é bom acabar com isso”, dizia Geraldo Pereira

O sambista mineiro Geraldo Theodoro Pereira (1918-1955), era o compositor preferido do cantor Ciro Monteiro. Na letra de “Sem Compromisso”, em parceria com Nelson Trigueiro, ele retrata cenas de ciúme no salão. Esse samba faz parte do LP Sinal Fechado, gravado por Chico Buarque, em 1974, pela Philips.
SEM COMPROMISSO
Nelson Trigueiro e Geraldo Pereira
Você só dança com ele
E diz que é sem compromisso
É bom acabar com isso
Não sou nenhum Pai-João
Quem trouxe você fui eu
Não faça papel de louca
Prá não haver bate-boca dentro do salão
Quando toca um samba
E eu lhe tiro pra dançar
Você me diz: Não, eu agora tenho par
E sai dançando com ele, alegre e feliz
Quando pára o samba
Bate palma e pede bis
Você só dança com ele
E diz que é sem compromisso
É bom acabar com isso
Não sou nenhum Pai-João
Quem trouxe você fui eu
Não faça papel de louca
Prá não haver bate-boca dentro do salão
Quando toca um samba
E eu lhe tiro pra dançar
Você me diz: Não, eu agora tenho par
E sai dançando com ele, alegre e feliz
Quando pára o samba
Bate palma e pede bis
Paulo Peres Poemas & Canções
Na genialidade de Fernando Lobo, “podemos ser amigos simplesmente, coisas do amor nunca mais…”

O jornalista, radialista e compositor pernambucano Fernando de Castro Lobo (1915-1996), ao compor “Chuvas de Verão”, retratou na letra o clima de confissões amorosas que prolongavam ou encerravam romances iniciados nos ambientes das boites dos anos 40 e 50.
A música, gravada originalmente por Francisco Alves, em 1949, pela Odeon, e por Nelson Gonçalves, talvez não se tornasse um clássico, conforme reconheceu o próprio Fernando Lobo, não fora a versão gravada por Caetano Veloso, vinte anos depois.
Caetano Veloso juntou a beleza já existente na composição ao clima de rompimento amoroso, com uma delicadeza de tratamento que faltou à gravação original; a canção tem seu momento culminante no verso que repete o título, definindo com lirismo e precisão a transitoriedade dos romances de ocasião.
CHUVAS DE VERÃO
Fernando Lobo
Podemos ser amigos simplesmente
Coisas do amor nunca mais
Amores do passado, no presente
Repetem velhos temas tão banais
Ressentimentos passam como o vento
São coisas de momento
São chuvas de verão.
Trazer uma aflição dentro do peito
É dar vida a um defeito
Que se extingue com a razão
Estranha no meu peito
Estranha na minha alma
Agora eu tenho calma
Não te desejo mais
Podemos ser amigos simplesmente
Amigos, simplesmente, nada mais
Por Paulo Peres Poemas & Canções
Uma inesquecível homenagem ao Planeta Água, na criatividade de Guilherme Arantes
22 de Março dia Mundial da água

O cantor e compositor paulista Guilherme Arantes, na letra de “Planeta Água”, aborda que a água é um elemento vital para a vida de todas as espécies terrestres. É importante esclarecer sobre a disponibilidade de água doce no planeta, realizando a conscientização sobre a necessidade de preservar esse recurso natural mas, infelizmente, isto não vem acontecendo, seja pelas mudanças climáticas, seja pelas autoridades encarregas do seu tratamento. A música “Planeta Água” foi classificada em 2º lugar no Festival Shell de MPB em 1981 e faz parte do álbum “O Amanhã” de 1981 pela Elektra e, em 1988, pela WEA Discos.
PLANETA ÁGUA
Guilherme Arantes
Água que nasce na fonte serena do mundo
E que abre um profundo grotão
Água que faz inocente riacho
E deságua na corrente do ribeirão
Águas escuras dos rios
Que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população
Águas que caem das pedras
No véu das cascatas, ronco de trovão
E depois dormem tranquilas
No leito dos lagos
No leito dos lagos
Água dos igarapés
Onde Iara, a mãe d’água
É misteriosa canção
Água que o sol evapora
Pro céu vai embora
Virar nuvens de algodão
Gotas de água da chuva
Alegre arco-íris sobre a plantação
Gotas de água da chuva
Tão tristes, são lágrimas na inundação
Águas que movem moinhos
São as mesmas águas que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Água que nasce na fonte serena do mundo
E que abre um profundo grotão
Água que faz inocente riacho
E deságua na corrente do ribeirão
Águas escuras dos rios
Que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população
Águas que movem moinhos
São as mesmas águas que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Com Paulo Peres Poemas & Canções
Uma canção eterna, criada por René Bittencourt em louvor à mulher sertaneja

O empresário artístico, jornalista e compositor carioca René Bittencourt Costa (1917-1979) utiliza hipérboles para fazer a “Sertaneja” feliz, nesta belíssima, romântica e bucólica letra. Essa canção foi gravada por Orlando Silva, em 1939, pela RCA Victor.
SERTANEJA
René Bittencourt
Sertaneja se eu pudesse
se papai do céu me desse
O espaço pra voar
eu corria a natureza
acabava com a tristeza
Só pra não te ver chorar
Na ilusão desse poema
eu roubava um diadema
lá no céu pra te ofertar
e onde a fonte rumoreja
eu erguia a tua igreja
e dentro dela o teu altar
Sertaneja, por que choras quando eu canto
Sertaneja, se este canto é todo teu
Sertaneja, pra secar os teus olhinhos
vai ouvir os passarinhos
que cantam mais do que eu
A tristeza do teu pranto
é mais triste quando eu canto
a canção que te escrevi
e os teus olhos neste instante
brilham mais que a mais brilhante
das estrelas que eu já vi
Sertaneja eu vou embora
a saudade vem agora
alegria vem depois
vou subir por estas serras
construir lá n’outras terras
um ranchinho pra nós dois
Paulo Peres Poemas & Canções
“O show tem de continuar”, uma música que marca o samba carioca contemporâneo

O cantor e compositor carioca Luiz Carlos Baptista (1949-2008) que adotou o nome artístico de Luiz Carlos da Vila ou das “Vilas”, como ele mesmo afirmava, porque residia na Vila da Penha e era compositor da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, é considerado um dos formatadores do samba carioca contemporâneo.
A letra deste samba mostra que, mesmo diante das adversidades surgidas na hora de cantarmos, devemos insistir até acharmos o tom correto, porque “O Show Tem Que Continuar”. Este samba foi gravado pelo grupo Fundo de Quintal no Lp O Show Tem Que Continuar, em 1988, pela RGE.
O SHOW TEM QUE CONTINUAR
Arlindo Cruz, Sombrinha e Luiz Carlos da Vila
O teu choro já não toca
Meu bandolim
Diz que minha voz sufoca
Teu violão
Afrouxaram-se as cordas
E assim desafina
E pobre das rimas
Da nossa canção
Hoje somos folha morta
Metais em surdina
Fechada a cortina
Vazio o salão
Se os duetos não se encontram mais
E os solos perderam emoção
Se acabou o gás
Pra cantar o mais simples refrão
Se a gente nota,
Que uma só nota
Já nos esgota
O show perde a razão
Mas iremos achar o tom
Um acorde com um lindo som
E fazer com que fique bom
Outra vez, o nosso cantar
E a gente vai ser feliz
Olha nós outra vez no ar
O show tem que continuar
Nós iremos até Paris
Arrasar no Olímpia
O show tem que continuar
Olha o povo pedindo bis
Os ingresso vão se esgotar
O show tem que continuar
Todo mundo que hoje diz
Acabou vai se admirar
Nosso amor vai continuar
Paulo Peres Poemas & Canções
“O que pode acontecer, menino, se o tempo não passar?”, perguntam Vital Lima e Nilson Chaves

O cantor e compositor paraense Carlos Nilson Batista Chaves, na letra de “Tempo e Destino”, em parceria com Vital Lima, retrata etapas, acontecimentos e conquistas que obtemos no passar do tempo. Essa música foi gravada por Sebastião Tapajós e Nilson Chaves no CD Amazônia brasileira, em 1997, pela Outros Brasis.
TEMPO E DESTINO
Vital Lima e Nilson Chaves
Há entre o tempo e o destino
Um caso antigo, um elo, um par
Que pode acontecer, menino,
Se o tempo não passar?
Feito essas águas que subindo
Forçaram a gente a se mudar
Que pode acontecer, meu lindo,
Se o tempo não passar?
O tempo é que me deu amigos
E esse amor que não me sai
Que doura os campos de trigo
E os cabelos de meu pai
Faz rebentar as paixões
Depois se nega às criações
E assim mantém a vida…
Que acontecerá aos corações
Se o tempo não passar?
Não mato o meu amor, no fundo,
Porque tenho amizade nele
Que já faz parte do meu mundo
O tempo entre eu e ele…
Paulo Peres Site Poemas & Canções
Conheça a letra inteira de “Luar do Sertão”, uma canção que marcou uma época na música brasileira

A letra de Luar do Sertão, um dos maiores clássicos da MPB, é muito extensa e nunca foi gravada integralmente. Foi o maior sucesso do poeta, compositor e cantor maranhense Catulo da Paixão Cearense (1863-1946), em parceria com o músico João Pernambuco. Eis a letra completa e original, extraída do livro “Minhas Serestas” de Loris R. Pereira, paginas 61/64.
LUAR DO SERTÃO
João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense
“Não há, ó gente, oh não,
Luar, como este do sertão. ”
(refrão)
Oh que saudade do luar da minha terra,
Lá na serra branquejando,
Folhas secas pelo chão,
Esse luar cá da cidade, tão escuro,
Não tem aquela saudade,
Do luar lá do sertão.
(refrão)
Se a lua nasce por detrás, da verde mata,
Mais parece um sol de prata,
Prateando a solidão,
E a gente pega na viola que ponteia,
E a canção é a lua cheia,
A nos nascer no coração.
(refrão)
Quando vermelha, no sertão desponta a lua,
Dentro d’alma, onde flutua,
Também rubra, nasce a dor,
E a lua sobe…
E o sangue muda em claridade !
E a nossa dor muda em saudade…
Branca, assim, da mesma cor !!!
(refrão)
Ai !… Quem me dera, que eu morresse lá na serra,
Abraçado à minha terra e dormindo de uma vez !
Ser enterrado numa grota pequenina,
Onde à tarde a surunina,
Chora sua viuvez.
(refrão)
Diz uma trova,
Que o sertão todo conhece,
Que se à noite o céu floresce,
Nos encanta e nos seduz,
É porque rouba dos sertões as flores belas,
Com que faz essas estrelas,
Lá do seu jardim de luz !!!
(refrão)
Mas como é lindo ver depois,
Por entre o mato,
Deslizar, calmo o regato,
Transparente como um véu,
No leito azul das suas águas, murmurando,
Ir, por sua vez roubando,
As estrelas lá do céu !!!
(refrão)
A gente fria desta terra sem poesia,
Não se importa com esta lua,
Nem faz caso do luar,
Enquanto a onça, lá na verde capoeira,
Leva uma hora inteira,
Vendo a lua a meditar.
(refrão)
Coisa mais bela neste mundo não existe,
Do que ouvir um galo triste,
No sertão, se faz luar,
Parece até que a alma da lua é que descanta,
Escondida na garganta,
Desse galo a soluçar !!!
(refrão)
Se Deus me ouvisse, com amor e caridade,
Me faria esta vontade,
-O ideal do coração !
Era que a morte,
A descantar, me surpreendesse, e eu morresse
Numa noite de luar, no meu sertão !
(refrão)
E quando a lua surge em noites estreladas,
Nessas noites enluaradas, em divina aparição
Deus faz cantar o coração da natureza,
Para ver toda a beleza do luar do Maranhão !
(refrão)
Deus lá do céu, ouvindo um dia, essa harmonia,
-A do meu sertão, do meu sertão primaveril,
Disse aos arcanjos que era o hino da poesia,
E também a Ave Maria, da grandeza do Brasil !
(refrão)
Pois só nas noites do sertão de lua plena,
Quando a lua é uma açucena,
É uma flor primaveril,
É que o poeta, descantado a noite inteira….
Paulo Peres Poemas & Canções
A sinfonia imortal que uniu para sempre os talentos musicais de Cartola e Nélson Sargento

O artista plástico, escritor, cantor e compositor carioca Nelson Mattos foi sargento do Exército, daí o apelido que virou nome artístico. Com parceria de Angenor de Oliveira, que ainda não usava o apelido de “Cartola”, fez da vida amorosa uma bela “Sinfonia Imortal”. O samba foi lançado no CD Nelson Sargento Versátil, em 2008, patrocinado pela Natura.
SINFONIA IMORTAL
Cartola e Nelson Sargento
Nós dois somos um naipe de orquestra
Raios de sol pela fresta
Nas partituras do amor
Surgiu no brilho dos instrumentos
Feito uma sombra, um lamento
Um contratempo da dor
Jamais a corda lá do destino
Fez nosso amor peregrino
Vagando em acordes vãos
E a paz era perfeita harmonia
Até que chegou o dia
Da gente fora do tom
Quando o amor desafina
As notas que predominam
Saudade e desilusão
Mas se o maestro é de fato
Põe na pauta um pizzicato
Resolve a situação
O que eu desejo afinal
É fazer das nossas vidas
Uma sinfonia imortal
O que eu desejo afinal
É fazer das nossas vidas
Uma sinfonia imortal
Por Paulo Perez Poemas e Canções
Imagens nordestinas e de filmes famosos inspiraram mais um sucesso de Fausto Nilo

O arquiteto, poeta e compositor cearense Fausto Nilo Costa Júnior, compôs em parceria com Geraldo Azevedo e Pippo Spera a música “Você se lembra”, que evoca imagens nordestinas e passagens musicais da canção “As Time Goes By” e dos filmes Casablanca, Anjo Azul e A Caravana do Deserto. A música foi gravada no Álbum Focus: O Essencial de Geraldo Azevedo, em 1999, pela Sony.
VOCÊ SE LEMBRA
Geraldo Azevedo, Pippo Spera e Fausto Nilo
Entre as estrelas do meu drama
Você já foi meu anjo azul
Chegamos num final feliz
Na tela prateada da ilusão
Na realidade onde está você
Em que cidade você mora
Em que paisagem em que país
Me diz em que lugar, cadê você
Você se lembra
Torrentes de paixão
Ouvir nossa canção
Sonhar em Casablanca
E se perder no labirinto
De outra história
A caravana do deserto
Atravessou meu coração
E eu fui chorando por você
Até os sete mares do sertão
Você se lembra…
Paulo Peres Poemas & Canções
Uma brilhante Lua cheia, bem feminina e brasileira, ilumina a criatividade de Fátima Guedes

A cantora e compositora carioca Fátima Guedes, na letra de “Lua Brasileira”, exalta a beleza e a magia que o luar transmite na cidade ou na floresta. A música foi gravada por Fátima Guedes no CD Grande Tempo, em 1995, pela Velas.
LUA BRASILEIRA
Fátima Guedes
Lua brasileira,
surgindo deslumbrante na floresta
toda verde prata
luz de festa, mãe da mata
Lua delicada,
pelos mares do Atlântico passeia
branca lua cheia
noite alta, madrugada
Linda,
por entre os edifícios
brilha a lua
uma em cada rua,
lua feiticeira,
surpreendente,
a cada esquina
ela é feminina
Lua brasileira
Paulo Peres Poemas & Canções
Uma música e um poema, especialmente carinhosos, para saudar o Dia Internacional da Mulher

O compositor carioca Carlos Alberto Ferreira Braga (1907-206), conhecido como Braguinha ou João de Barro, fez uma belíssima declaração de amor ao colocar letra no famoso choro “Carinhoso”, um dos maiores clássicos da MPB, composto por Pixinguinha. “Carinhoso” foi gravado por Orlando Silva, em 1937, pela RCA Victor.
CARINHOSO
Pixinguinha e Braguinha
Meu coração, não sei por quê
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo,
Mas mesmo assim foges de mim.
Ah se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero.
E como é sincero o meu amor,
Eu sei que tu não fugirias mais de mim.
Vem, vem, vem, vem,
Vem sentir o calor dos lábios meus
A procura dos teus.
Vem matar essa paixão
Que me devora o coração
E só assim então serei feliz,
Bem feliz.
Paulo Peres Poemas & Canções
“Aquela estrela é dela. Vida, vento, vela, leva-me daqui”, cantavam Fagner e Belchior

O produtor, instrumentista, cantor e compositor cearense Raimundo Fagner Cândido Lopes, compôs em parceria com Belchior a belíssima “Mucuripe”, inspirada na paisagem pesqueira daquela enseada, no Ceará, cuja letra reflete o sofrimento pelo abandono de um grande amor.
Para curar o coração, nada como sair bem vestido (chamando atenção) para a noitada, em busca de um novo amor: “Calça nova de riscado, paletó de linho branco, que até o mês passado, lá no campo inda era flor”. Embora o “Ouro Branco do Ceará” seja o algodão mocó, usou-se o linho branco, proveniente dos campos europeus, algo mais sofisticado e caro.
A música “Mucuripe” foi um grande sucesso com Elis Regina, embora tenha sido gravada, anteriormente, pelo Fagner no Disco de Bolso do Pasquim, em 1972, pela Phonogram, e também foi sucesso com Roberto Carlos, em 1975.
MUCURIPE
Belchior e Fagner
Aquela estrela é dela
Vida, vento, vela, leva-me daqui
As velas do Mucuripe
Vão sair para pescar
Vou levar as minhas mágoas
Prás águas fundas do mar
Hoje a noite namorar
Sem ter medo da saudade
Sem vontade de casar
Calça nova de riscado
Paletó de linho branco
Que até o mês passado
Lá no campo ainda era flor
Sob o meu chapéu quebrado
O sorrido ingênuo e franco
De um rapaz novo encantado
Com 20 anos de amor
Paulo Peres Poemas & Canções