Endividada, petroleira OGX entra com pedido de recuperação judicial; notícia já era esperada pelo mercado, depois que a companhia de Eike Batista não conseguiu fechar acordo com seus credores; empresa teria declarado passivo consolidado de R$ 11,2 bilhões; fato salienta queda do executivo que prometia ser o mais rico do mundo; ações encerraram o dia em queda de 26,09%, arrastando o Ibovespa, que fechou negativo em 0,67%.
Por Sabrina Lorenzi
RIO DE JANEIRO – A endividada petroleira OGX, do empresário Eike Batista, entrou com pedido de recuperação judicial nesta quarta-feira, informou a assessoria de imprensa da 4a Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
Uma fonte a par do assunto antecipou o pedido à Reuters pouco antes da confirmação pela Justiça do Rio.
O pedido de recuperação da empresa –o maior da história por uma empresa da América Latina– já era amplamente esperado, depois que fracassaram as negociações com detentores de 3,6 bilhões de dólares em bônus da OGX no exterior para uma reestruturação da dívida.
A empresa declarou passivo consolidado de 11,2 bilhões de reais no pedido de recuperação judicial, segundo a fonte ouvida pela Reuters, que pediu para não ser identificada.
Se o tribunal de falências aprovar o pedido, a OGX terá 60 dias para apresentar um plano de reestruturação da companhia.
“Acreditamos que (o pedido) seja deferido pelo juiz e que seja proveitoso para credores, acionistas e para o país. A OGX possui ativos para viabilizar sua recuperação” afirmou o advogado Marcio Costa, do escritório de advocacia Sergio Bermudes, que participa do processo de recuperação da OGX.
Os credores da OGX –que incluem a Pacific Investment Management Co (Pimco), que administra o maior fundo de títulos do mundo, com sede na Califórnia, e o fundo de investimento norte-americano BlackRock Inc, entre outros– terão então 30 dias para aprovar ou rejeitar o plano.
O pedido de recuperação judicial da OGX marca mais um capítulo no desmantelamento do que já foi um império industrial, com ativos de energia, mineração e infraestrutura, entre outros, do grupo “X”. O fracasso da campanha exploratória da OGX –antes considerada o ativo mais precioso do Grupo EBX– contaminou as outras empresas de Eike.
NO VERMELHO
A OGX estima necessidade de curto prazo de 250 milhões de dólares em capital e ficará sem recursos na última semana de dezembro se não conseguir levantar dinheiro novo, conforme informações do plano de reestruturação aos detentores de bônus que fracassou.
A empresa tinha 82 milhões de dólares no fim de setembro e seus assessores financeiros na negociação com os credores externos –Blackstone e Lazard– estimam desembolsos de 89 milhões de dólares apenas a fornecedores até o fim do ano, considerando somente pagamentos críticos a prestadores de serviço no campo de Tubarão Martelo, na Bacia de Campos.
Em Tubarão Martelo, a petroleira busca começar a produzir em meados de novembro, a fim de gerar receita para atenuar sua situação.
O valor atribuído à toda OGX, de acordo com o plano apresentado aos credores, é de 2,7 bilhões de dólares –principalmente composto pelo valor de Tubarão Martelo (1,4 bilhão de dólares) e do campo Atlanta (1,1 bilhão de dólares).
O pedido de recuperação judicial da OGX pode ter implicações sobre o destino da empresa-irmã, a construtora naval OSX, que foi criada para fornecer plataformas de exploração à petroleira. A OSX, entretanto, disse nesta semana que não tem intenção de entrar com pedido de recuperação judicial.
QUEDA DE EIKE
É pouco provável que o pedido de recuperação judicial da OGX tenha um efeito significativo na economia do Brasil, pois a companhia está em fase inicial e produz pouco petróleo.
Mas trata-se de mais um exemplo vívido da queda dramática de Eike –um empresário de renome que disse certa vez estar no caminho certo para se tornar o homem mais rico do mundo.
Aos 56 anos, ele viu sua fortuna pessoal reduzida em mais de 30 bilhões de dólares nos últimos 18 meses, com investidores punindo as ações de suas empresas listadas em bolsa.
O valor de mercado da OGX, por exemplo, despencou em quase 45 bilhões de dólares desde o pico atingido em meados de 2010.
Nesta quarta-feira, a ação da OGX operou em queda durante todo o pregão, mas acelerou a baixa após a notícia sobre o pedido de recuperação judicial. Nos ajustes de fechamento do pregão, o papel saiu da mínima para encerrar com desvalorização de 26 por cento, valendo 0,17 real.
Com o pedido de recuperação judicial, a negociação das ações da OGX na bolsa paulista ficará suspensa.
(Reportagem adicional de Jeb Blount)
Abaixo, reportagem do portal Infomoney sobre a queda das ações da OGX no Ibovespa:
Ibovespa cai 0,67% em seu 2º dia de queda, com OGX despencando 26%
Índice fecha a 54.172 pontos, com mercado repercutindo notícia de pedido de recuperação judicial da petrolífera de Eike; siderúrgicas sobem com resultado surpreendente da Usiminas
SÃO PAULO – O Ibovespa conheceu sua segunda queda consecutiva nesta quarta-feira (30), ao fechar com variação negativa de 0,67%, a 54.172 pontos. Repetindo a véspera, o principal índice acionário brasileiro foi puxado sobretudo pelas ações da OGX Petróleo (OGXP3, R$ 0,17, -26,09%), com a espera do mercado por um possível pedido de recuperação judicial da empresa de Eike Batista. O volume financeiro negociado na Bovespa nesta sessão foi de R$ 6,87 bilhões.
Desempenho negativo também foi visto nas bolsas internacionais, que repercutiram a interpretação do Federal Reserve de que a economia norte-americana estaria de fato se recuperando, mas com a manutenção do Quantitative Easing 3 mais uma vez assegurada, conforme esperado pelo mercado. Vale lembrar que a autoridade monetária dos EUA injeta até US$ 85 bilhões mensais na economia do país sob compra de títulos públicos para estimular a recuperação econômica. Se o Fed avaliar que os indicadores de desemprego e inflação alcançaram os patamares desejados, uma nova etapa das políticas monetárias iniciaria no país, com a retirada gradual dos estímulos e a consequente redução no afrouxamento econômico.
Recuperação judicial de OGX derruba índice
Por aqui, mais uma vez o Ibovespa repercutiu mais os acontecimentos locais, com o mercado esperando por um possível pedido de recuperação judicial da OGX Petróleo nesta quarta-feira. A poucos instantes do fechamento da bolsa, alguns veículos da imprensa indicaram que a empresa teria acabado de fazer o pedido no Rio de Janeiro. Os indicadores macroeconômicos tiveram menos importância no desempenho do índice nesta sessão.
Ainda na ponta negativa, também chamaram atenção as ações de MMX Mineração (MMXM3, R$ 0,60, -10,45%), Marfrig (MRFG3, R$ 4,81, -3,61%) – que acumulam queda anual de 43,28% – e imobiliárias, lideradas por Rossi (RSID3, R$ 2,78, -3,14%).
Também na ponta de baixo, mas com um desempenho mais ameno, apareceram as ações da TIM Participações (TIMP3, R$ 11,43, -0,44%), que repercutiram os resultados da empresa, divulgados na noite da última terça-feira. A empresa registrou lucro líquido de R$ 315 milhões no 3º trimestre, ficando abaixo da média estimativas de analistas obtidas pela Reuters, que apontava lucro de R$ 371 milhões entre julho e setembro. A operadora de telefonia atribuiu o mau desempenho ao resultado financeiro no período, que ficou negativo em R$ 90,2 milhões.